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Mulheres Periféricas

Enfrentando desafios e construindo juntas um futuro de superação

Na imensidão das periferias urbanas, onde a vida parece ser uma luta constante, surgem mulheres motoras e resilientes que desafiam todas as expectativas. Elas são verdadeiras guerreiras, que enfrentam obstáculos diários com aprendizado e se tornam inspiração para todos ao seu redor.

 

Originárias de comunidades muitas vezes marginalizadas e carentes de recursos, essas mulheres sabem o que é lutar desde cedo. Enfrentam desafios como a falta de oportunidades, a violência urbana e a desigualdade social. No entanto, elas são exemplos de força e superação, recusando-se a deixar que as adversidades as definam.

 

O que torna essas mulheres ainda mais notáveis ​​é a maneira como se apoiam mutuamente. Elas compreendem a importância de serem unidas e construirem uma rede de solidariedade. Juntas, enfrentam o mundo, mostrando que ninguém deve enfrentar as batalhas sozinho.

 

Na jornada dessas mulheres, a resiliência é a chave para superar os desafios. Cada obstáculo enfrentado é uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Elas não permitem que as dificuldades impeçam de buscar uma vida melhor para si e suas famílias.

VOZ FEMININA DENTRO DA FAVELA

Ativista social, poetisa, empreendedora e periférica, Vilene Lacerda transformou seu silêncio em um grito impossível de ser ignorado

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Em um barraco de madeira, em meio às vielas de Paraisópolis, uma das maiores favelas do Brasil, foi onde Vilene Lacerda, de 34 anos, cresceu e passou grande parte de sua vida. Filha de uma empregada doméstica e de um servente de pedreiro, os dois vieram do Nordeste para tentar a vida na Grande São Paulo, Vilene e seus quatro irmãos sentiram na pele desde cedo as dificuldades de se morar em meio a uma comunidade.

 

“Meus pais criaram eu e meus irmãos com muita dificuldade. Lembro muito bem quando a população mais pobre passou a ter oportunidade para comprar e sair da miséria extrema. Houve um dia em que meus pais foram até o mercado e fizeram uma compra que tinha tudo o que nós não podíamos comer, porque era muito caro. Foi uma festa naquele dia”. Apesar de ter tido uma infância cheia de restrições, Vilene conta que foi feliz.

 

Após anos vivendo em São Paulo, Vilene trocou o caos das ruas da capital pela tranquilidade das areias das praias de Bertioga, na Baixada Santista. “Eu amo essa cidade. Costumo brincar que não escolhi Bertioga, foi Bertioga que me escolheu”, diz a moradora do Jardim Vicente de Carvalho.

 

Mãe de dois filhos, Vilene teve seu primeiro contato com a maternidade quando ainda era jovem. Com apenas 15 anos, deu à luz ao seu primeiro filho, Yan Victor Oliveira de Souza, que hoje tem 18 anos. Seis anos depois ela deu à luz ao segundo filho, Miguel Lacerda Pereira, de 12 anos. Mesmo com as adversidades de ser mãe solo, ela continua lutando para proporcionar boas condições de vida para seus filhos.

 

Em 2018, Vilene idealizou o Projeto ‘Elas na Quebrada’, com o propósito de fortalecer o vínculo de mulheres da periferia. “Elas na Quebrada nasceu da minha experiência e de outras mulheres na pobreza e no silêncio. Pois ser mulher negra e periférica em uma sociedade machista já é um grande desafio. Ser mulher e ser da periferia torna tudo mais difícil duas vezes mais”, afirma.

 

Além do “Elas na Quebrada”, Vilene também tem um empreendimento, que ainda está no início, voltado para o ecoturismo, Trilhas de Oyá. Sendo filha de Iansã, Vilene carrega a força de sua mãe para nunca desistir. “Às vezes eu penso em desistir. A falta de reconhecimento, a desvalorização do trabalho ainda mexe comigo. Tento trabalhar todos os dias com autoconfiança."

Teve um dia em que meus pais foram até o mercado e fizeram uma compra que tinha tudo o que nós não podíamos comer, porque era muito caro. Foi uma festa naquele dia", Vilene Lacerda.

Criado com o objetivo de fortalecer as iniciativas e potencialidades sociais e culturais presentes no cotidiano da periferia. Desde o início o projeto contou com diversas atividades e eventos voltados ao público feminino da periferia na cidade de Bertioga.

 

Sua atuação é voltada principalmente para o cenário sociocultural para que as oportunidades de sobrevivência, conexão, expansão, trabalho, renda e visibilidade cheguem até as moradoras e moradores de vulnerabilidade e risco social.

 

A primeira ação, ainda em 2018, foi a produção e o lançamento da primeira Feira Preta - Ação Cultural de Bertioga. O evento contou com atividades com foco na cultura afro. Em 2019 houve a 2º Feira Preta, desta vez em parceria com o Instituto Posse Par e comerciantes locais.

 

Nesse mesmo ano o movimento realizou o primeiro “Sarau Elas na Quebrada”, evento itinerante da Cidade com apoio do Sesc Bertioga e de outros movimentos. O encontro deu visibilidade a artistas locais e mulheres periféricas em apresentações musicais, de poesia e dança.

 

Com a pandemia de covid-19, o “Elas na Quebrada” voltou seus esforços em mitigar as consequências da crise e lançaram a campanha Conexão Periférica, que buscava arrecadar alimentos e produtos de higiene pessoal para mulheres periféricas chefes de família, campanha que durou até o ano de 2021.

A FORÇA DA PERIFERIA

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Nos fundos do bairro Jardim Vicente de Carvalho ou Saoc como é popularmente conhecido pelos moradores de Bertioga, em uma pequena casa de tijolos, é onde mora Náthaly Kayt Rosa Santos. Mulher preta, cria da periferia do Litoral Paulista e umas das líderes do Elas na Quebrada, a jovem de 20 anos é um dos exemplos de seres humanos que têm pouco na vida, mas sempre gosta de ajudar o próximo e os mais necessitados.

 

Nath, como é apelidada pelos parentes e conhecidos, reside junto com sua mãe, seus dois irmãos e seus dois filhos. Junto da matriarca da família, ela atua como empregada doméstica em casas e eventos que acontecem em Bertioga.

Desde muito nova, Nath teve que enfrentar as dificuldades econômicas que a família passava e por conta disso, precisou mudar de casa diversas vezes. Entre uma mudança e outra, ela conheceu Vilene Lacerda, que já atuava com projetos sociais. Devido a pandemia da covid-19, a jovem e sua família foram um dos públicos que mais foram impactados pela desigualdade social.

 

Foi principalmente nesse cenário pandemico que Vilene entrou em ação e passou a contemplar a família de Nath e os moradores da região com cestas básicas. Além dessa grande ajuda, o público feminino também recebeu absorventes e palestras sobre a importância dos coletores menstruais.

 

Após mostrar grande carisma e humanização no cuidado ao lidar com as pessoas, Nath foi chamada para ser uma das integrantes e líderes do Elas na Quebrada, recrutando e reunindo mulheres para participar do projeto.

 

A moradora de Bertioga conta que uma das grandes conquistas do programa foi o cartão alimentício feito em parceria com o projeto Falcão, para cerca de 60 pessoas que são contempladas pelo projeto. "Foi uma alegria imensa quando recebemos a notícia que havia dado certo esse cartão, que funciona como um vale alimentação. Sabemos da dificuldade de todos que são assistidos pelo nosso projeto, então é um respiro de salvação para essas pessoas que a maioria são desempregadas, mães solos e que não tem condições de levar o alimento para a mesa".

 

Assim como a maioria das pessoas que vivem na mesma situação de Nath, o saneamento básico, saúde e dignidade são pontos de extrema carência em suas vidas. "Precisamos fazer tudo aqui para sobreviver, como cavar fossa, fazer a ligação do esgoto e água. No quesito de saúde é triste e ficamos desamparados, a única consulta que meu filho passou foi após o nascimento, fora isso estou há mais de um ano tentando marcar uma consulta e achar vaga para ele na creche".

 

Apesar de todas as dificuldades e obstáculos que a jovem Nath, a apaixonada pelo cantor e ator MC Cabelinho, enfrentou e precisa enfrentar a cada dia de sua rotina, ela continua esperançosa, alegre, pronta para batalhar por uma vida melhor e à disposição para seguir na coordenação do projeto Elas na Quebrada, ajudando aquelas que necessitam de seus amparos.

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Sabemos da dificuldade de todos que são assistidos pelo nosso projeto, então é um respiro de salvação para essas pessoas que a maioria são desempregadas, mães solos e que não tem condições de levar o alimento para a mesa"

NATHAlY KAYT ROSA SANTOS
 

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REALIDADES ESQUECIDAS

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autores

Emerson Nascimento
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Emerson Nascimento
Redator

Vitória Oliveira
Fotógrafa e cinegrafista

Thalita Ferreira
Editora

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