70% da sua vida
está aqui
A água é essencial para o planeta e para os seres vivios, mas não é um recurso ilimitado
Bárbara Pitta, Caio Mendonça, Geovanna Dantas e Stephanie Lia
Quanto vale um copo de água geladinha e cristalina em um dia muito quente? Quase como o ar que a gente respira, a água é um elemento tão acessível, relativamente barato e tão farto nas regiões metropolitanas que boa parte das pessoas age como se fosse um recurso inesgotável, mas no momento em que ela faltar, a nossa existência entra em risco. Pensar no copo de água gelada no dia muito quente remete à ideia do quanto é bom, revigorante, vital, e por que não, saboroso esse líquido que simboliza a vida.
Um copo de água pronto para matar sua sede.
Foto: Veja/Grosby Group
Há quem diga que o planeta deveria se chamar Água ao invés de Terra, já que 70% dele é composto de moléculas de H O. De toda a água do planeta apenas 2% é potável, ou seja, própria para o consumo humano e essa quantidade pode ser reduzida ainda mais, caso a população continue fazendo uso excessivo da água. Ainda assim, a população segue fazendo uso excessivo da água.
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é recomendado que cada habitante consuma por dia uma média de 100 litros de água seja para beber ou para utilizar, mas no Brasil o número chega a 200 litros, segundo o relatório Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento.
PROBLEMAS REGIONAIS
Rodízio de abastecimento ou água imprópria para consumo já foi uma realidade da Baixada Santista. A região tem tido um crescimento gigantesco desde os anos 1990.
Uma pesquisa do Observatório Geográfico da América Latina revelou que a população brasileira, principalmente no Estado de São Paulo, teve um crescimento de quase 9% até o censo de 2010, o que fez com que a Sabesp, empresa responsável pelo abastecimento da região, adotasse medidas para ampliar o abastecimento, como a construção do reservatório Santa Tereza-Votoruá, inaugurado em 1981.
Foto: Santa Portal
Reservatório de água da Sabesp.
O reservatório tem capacidade para cerca de 100 milhões de litros de água, o que equivale a um terço do armazenamento total disponível na região. Entretanto, a longo prazo nem o maior reservatório em rocha da América Latina será suficiente. “A região tem um problema também em relação à expansão" afirma a professora da Unifesp Pilar Villar, especializada em recursos hídricos e direito ambiental.
A Baixada Santista também é abastecida por 49 reservatórios de água tratada espalhados entre as nove cidades da região, capazes de fornecer 2.500 litros por habitante/dia. Por conta do aumento da taxa populacional, a pesquisadora acredita que é possível acontecer uma crise hídrica em um futuro próximo, não apenas na alta temporada, mas por períodos mais longos.
Foto: Acervo pessoal
Pilar Villar, professora universitária especializada em recursos hídricos e direito ambiental.
Pilar afirma que esse resultado de fornecimento realizado através de estudos da mesma é de 2019, mas ele não leva em conta a população flutuante, que vem para a região nos fins de semana e nos períodos de férias.
Apesar dos esforços da Sabesp,
ainda temos desfalques no fornecimento de água
Segundo a empresa, a falta se deve ao desperdício, que normalmente já é grande, mas que aumenta proporcionalmente com a superpopulação nas cidades praianas na alta temporada.
VAZAMENTOS MERECEM ATENÇÃO
O desperdício de água é extenso, recorrente, quase cultural. E não para aí. A água própria para consumo é cara demais para ser desperdiçada: entre o reservatório e o consumidor final existe uma perda de 45% devido a falhas na manutenção da rede. A professora da Unifesp explica que o correto seria ter uma perda entre 6% a 15%.
O desperdício se dá em grande parte nas pequenas coisas que fazemos durante o dia, desde escovar os dentes com a torneira aberta até banhos muitos longos. Assim como muitas outras pessoas, o professor de Matemática, Alex Vaz, conta sobre o uso da água em sua residência, exemplificando o desperdício: “Para mim é extremamente normal lavar a louça com a torneira aberta o tempo todo, em casa nunca tivemos essa conscientização sobre o abastecimento de água”, admite.
Para mudar essa cultura de desperdício, segundo a professora Pillar, a educação ambiental nas escolas poderia auxiliar, mas é algo que precisaria ir além, porque atingiria uma parcela da população, mas não seria suficiente para apresentar resultados efetivos.
Foto: G1
Falta de água atinge boa parte da população.
O RACIONAMENTO
A pesquisadora diz que o racionamento de água já atinge alguns lugares, mas o corte não é feito de uma maneira digna nem com aviso prévio, sendo comum o abastecimento ser cortado em lugares de baixa renda.
O abastecimento dos reservatórios se dá pelas chuvas, mas o clima não é um fator que se possa controlar. Em 2017, os baixos volumes de chuva afetaram a capacidade de diferentes reservatórios e o racionamento passou a ser uma realidade.
"Na Baixada Santista, a água potável é proveniente, em sua maior parte, de rios da Serra do Mar e passa por sistemas de tratamento para ser distribuída à população."
Pilar Villar
Como o consumo vem crescendo, agravado pelo desperdício, além de eventuais problemas de poluição, o líquido pode sofrer escassez.
Pilar considera que esse problema é um desafio à gestão pública, que exige a conscientização dos usuários e planejamento para o futuro no que se refere à sustentabilidade e preservação dos mananciais.