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RECICLANDO IDEIAS E PLANTANDO O FUTURO

Com a vida atrelada à economia circular e à vontade de lutar pelo meio ambiente, Gabriel cresceu como uma árvore no ramo

Amanda Bento, Bruno Kato, Julia Mayorca

Aos 33 anos, ele traz nos gestos inquietos e na fala acelerada, a aspiração de um cientista maluco, daqueles que se vê em desenho animado, que pretendem mudar o mundo, um experimento por vez, inovando em tudo o que faz. Ou de um super-herói, que sabe que seu planeta está em perigo e faz de tudo para salvá-lo. A comparação não soa nenhum pouco exagerada quando se está diante do empreendedor social Gabriel Estevam Domingo.

 

Essa vontade pela inovação e o cuidado com o meio ambiente não é algo recente. Vem desde menino, quando se mudou com a mãe, Marisa, para uma cidade na divisa com o Mato Grosso do Sul, no interior do estado de São Paulo, por conta do divórcio dos pais.  

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Ali, ele começava a dar sinais de que poderia ter um futuro brilhante e cheio de experiências, tanto de vida, quanto de laboratório. Enquanto algumas crianças nessa fase estavam apenas preocupadas em se divertir, Gabriel já começava a notar as dificuldades das pessoas que moravam ao redor de um lixão que não ficava muito longe de sua casa.

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Ele fez amizade com as crianças e demais moradores do lugar e percebeu que poderia ajudá-los para minimizar as condições precárias em que viviam, inclusive a falta de energia elétrica.

Foto: Acervo pessoal
Gabriel mostra muda de árvore do seu aplicativo Carbon Z

A solução surgiu como nos desenhos animados, quando aquela lâmpada acende em cima da cabeça do inventor. Primeiro, incentivou algumas famílias a produzirem velas artesanais.  Depois, mesmo de forma amadora, com o material que tinha à disposição, Gabriel desenvolveu um sistema de captação de água da chuva para os moradores. 

 

Mais tarde, mudou-se com a mãe para a Baixada Santista. Como professora de Artes, ela foi aprovada em um concurso público para lecionar na rede estadual de ensino em Praia Grande. Na escola Magali Alonso, Gabriel começou a se destacar aos 17 anos, quando foi premiado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e pela diretoria da escola, como uma forma de agradecimento pelo esforço que o estudante teve em organizar um mutirão que revitalizou aquele estabelecimento de ensino.

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Com bolsa integral do Prouni, ingressou na Universidade São Judas Tadeu em 2009 e sua personalidade de cientista foi aflorada na faculdade de Engenharia Ambiental, acumulando diversos prêmios ao longo dos seis anos de ensino universitário. Por exemplo, em seu segundo ano, conquistou o Prêmio de Empreendedorismo e Inovação EDP (Energias de Portugal) 2010, considerado o mais importante desses dois segmentos.  

"Foi um marco, Porque é um prêmio que reconhece as maiores iniciativas socioambientais do planeta. Isso me trouxe muita visibilidade. Mostra que você ta no caminho certo. Foi bem gratificante."

Gabriel Estevam Domingos

Em Cubatão, onde morou por um tempo, o cientista revitalizou o parque Cotia-Pará, uma das áreas de preservação ambiental do município, jogando um pouco de cor na paleta tão cinza da cidade que abriga dezenas de indústrias de grande porte.

 

Também foi em Cubatão que ocorreu um dos momentos mais importantes de sua vida profissional. Foi lá que nasceu o escritório da GED - Inovação, Engenharia e Tecnologia, em 2011.

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Revitalização da escadaria no bairro jardim santa ângela, na zona sul de são paulo

A empresa foi criada de maneira rápida e inesperada. Ao ganhar a premiação da EDP, Gabriel foi informado que teria que ter um CNPJ. Quando pensou em qual seria o nome de sua empresa, ele usou uma memória da infância. “Lembro que, quando era criança, eu escrevia as iniciais do meu nome: GED. Acho que todo mundo faz isso na juventude, na carteira da escola, não que eu era pichador né?! Mas escrevia e aí, ficou GED e pegou”.  

 

Em pouco tempo, Gabriel já tinha oito funcionários, todos colegas da faculdade. Com esse time, o estudante procurou moldar a empresa no sistema da economia circular, conceito que prioriza a reutilização, recuperação, reciclagem e redução de materiais. Usando esse pensamento, surgiu a Ecotinta, seu primeiro projeto patenteado a ter relevância no mercado. 

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No processo adotado pelas Estações de Tratamento de Água (ETA) da Baixada Santista, há a geração de um resíduo, uma espécie de lodo, que acaba sendo cobrado na fatura dos moradores da região. Por não ter uma área adequada para a deposição desse material, Santos transfere toneladas desse produto para São Paulo, aumentando significativamente os custos da operação.

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“Eu pensei ‘não tem como a gente criar uma forma de evitar esse custo que eu sou co-responsável?’, porque eu estou tomando água, tô pagando e tô gerando, e gerando de forma errada”

Gabriel Estevam Domingos

Como o lodo é rico em ferro, que pode ser usado como pigmento, o empreendedor começou a utilizar o resíduo para produzir a Ecotinta, que reutiliza o produto e tem um custo mais baixo, se comparado a tintas convencionais que são usadas para pintar paredes.  

 

Por conta desse projeto, Gabriel recebeu um dos maiores prêmios de sua carreira: o Prêmio Bayer Embaixadores Ambientais 2012, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), maior iniciativa socioambiental do planeta.  

 

Outra iniciativa inovadora foi uma ração ecológica, que serviu como alternativa para um problema da cadeia pesqueira da região: a casca de camarão.  Aproveitando as sobras, que de outra forma seriam descartadas em corpos d'água, ele desenvolveu uma farinha, rica em micronutrientes, como cálcio e ferro. Foi a primeira ração a usar o crustáceo como ingrediente.

Foto: Acervo pessoal
Gabriel com Tocha Olímpica em 2016

As suas criações o levaram a uma conquista um tanto diferente: ele foi convidado pelo Comitê Olímpico Internacional a carregar a Tocha Olímpica em 2016.

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No ano seguinte, surgiu o convite para se tornar diretor técnico do Grupo Ambipar, durante um evento realizado pela Globo News. Inicialmente, ele foi contrário à ideia, mas com o passar do tempo, chegou à conclusão que essas fusões são importantes para o crescimento das empresas. Assim, a multinacional adquiriu 51% da GED e Gabriel permaneceu como um dos diretores e responsável pelo centro de pesquisas do grupo empresarial.

Dessa parceria de sucesso, veio um projeto que tem dado o que falar na mídia. O aplicativo Carbon Z foi uma ideia desenvolvida com o intuito de ligar a tecnologia à defesa do meio ambiente. No aplicativo, o usuário pode calcular a sua pegada de carbono, ou seja, quanto a rotina daquela pessoa emite carbono.  

 

Além de receber essa informação, você pode neutralizar a sua emissão plantando árvores, já que a equipe por trás do projeto possui três locais de plantio, um em Cubatão e dois em São Paulo, e realiza esse serviço. Ao escolher essa opção, o usuário recebe um certificado de "Compensação de Carbono”, junto das coordenadas para que a pessoa possa acompanhar o crescimento de sua muda.  

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O app Carbon Z criado pelo empreendedor Gabriel Estevam, vem com a intenção de reduzir a emissão de gás carbono e adicionar um pouco mais de verde nas cidades.

Acreditando no poder da tecnologia nessa luta, o próximo app será lançado em breve. Mesmo sem poder dar muitas informações, o engenheiro, relutante, deixou escapar um pequeno spoiler da criação.  

 

“A gente vai lançar uma espécie de criptomoeda ligada ao mercado de carbono e popularizar para pessoas físicas. Porque quando a gente tem um mercado em ascensão de créditos de carbono, de medidas para reduzir o mesmo, você consegue unir um investimento que é lastreado no mercado com ações de reflorestamento e de uso de energia solar, por exemplo”, explicou.

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No comando de seu laboratório, o cientista não deixa de se preocupar em encontrar soluções sustentáveis para enfrentar os grandes desafios contemporâneos, entre elas, máscaras N95, fabricadas a partir de garrafas PET, e álcool ecológico, feito do processo de fermentação do milho, itens extremamente necessários durante a pandemia da covid-19. 

 

Quando pensa no futuro, Gabriel afirma que o mais importante é pensar no coletivo. “Todos nós estamos interligados e você precisa do próximo. Acho que as pessoas podem dedicar um tempo do seu dia em favor da coletividade. A pandemia está nos mostrando que a gente precisa de todo mundo, não tem como negar isso”. 

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