Em nome de um legado
De olho nos crimes contra o meio ambiente, a promotora Almachia Zwarg mantém vivo o sonho e a missão do tio, Ernesto Zwarg, um dos maiores ambientalistas da região
Giovanna Real, Laís Regina, Lucas Leite e Vitor Leutz
Na hora escolher a faculdade que cursaria, Almachia Zwarg Acerbi chegou a pensar em Jornalismo, mas depois consolidou sua opção em Direito, com a intenção de atuar na esfera pública.
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Mas já no primeiro ano da faculdade chegou a pensar em desistir do curso. “Foi difícil, maçante, até porque a gente quer ver o lado prático e isso demora um pouco”, diz.
Para bancar a faculdade, auxiliou um escritório de advocacia de Campinas que tinha ações tramitando em Santos e depois colaborou com atividades de pesquisa no próprio curso de Direito. Nas horas vagas, estudava para o concurso público.
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No início, imaginava seguir a área criminal e chegar à magistratura. Ela ainda era muito jovem e não conhecia muito sobre o papel dos promotores.
A percepção de qual seria o seu caminho na profissão foi quando estagiou no Ministério Público. Quando se formou, já tinha convicção de que o trabalho como promotora pública era o que a estimulava.
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Ao assumir o cargo de promotora do Meio Ambiente de Santos, a convite do promotor Fernando Akaoui, foi inevitável a inspiração trazida pelo tio, o ambientalista e ex-vereador de Itanhaém, Ernesto Zwarg, falecido em 2009. Ele ficou conhecido pelas brigas judiciais contra projetos imobiliários naquela cidade e a mobilização popular contra os planos do regime militar de construir usinas nucleares em área preservada da Jureia.
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Embora esteja na linha de frente no combate às infrações ambientais, Almachia acredita na prevenção e por isso é defensora ardorosa da educação ambiental nas escolas. “É um trabalho de formiguinha, mas é multiplicador. A criança chega em casa e explica para a mãe e para o pai a importância da natureza. As pessoas às vezes agridem o meio ambiente por desconhecimento e não por querer”, pondera.
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A promotora entende que existe muita polêmica nas questões ambientais, porque o tema é extremamente complexo e extenso. E o trabalho do Ministério Público é fundamental na intervenção dos problemas ambientais. “A gente trata de uma variedade de assuntos, pré-sal, porto ou áreas verdes e tudo isso envolve muitas normas, legislações específicas. Nós, promotores, estamos sempre aprendendo”, diz.
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Como integrante do Grupo de Atuação Regionalizada de Defesa do Meio Ambiente (GAEMA), Almachia lamenta a negligência com que é tratada a questão ambiental. “As pessoas só param para pensar depois que acontece uma tragédia, como em Brumadinho”, critica. A complexidade e amplitude do tema fazem com que ela aponte a criação de varas judiciais especializadas em meio ambiente como algo premente.
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Entre os vários processos que estão sendo conduzidos por ela, um dos mais importantes é o que trata da transposição do rio Itapanhaú, em Bertioga. As obras foram paralisadas por determinação da Justiça após a representação da promotora, sob a alegação de que não há estudos suficientes sobre os impactos do empreendimento e que sua necessidade é questionável. O projeto de transposição prevê a transferência da água do Itapanhaú para a Barragem de Biritiba Mirim, do Sistema Alto Tietê, a partir da instalação de uma adutora de 8,5 quilômetros de extensão e bombas instaladas no meio da floresta.
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Almachia reconhece que o seu trabalho é duro, complicado, muitas vezes incompreendido, mas acha que vale a pena por ter a possibilidade de mudar alguma situação em favor da sociedade. “É uma realização pessoal, um sonho concretizado”, conclui.