Uma vida dedicada ao meio ambientE
Biólogo marinho e fundador do Instituto EcoFaxina, William Schepis organiza grupos de voluntários e estudantes para coletar lixo nas regiões próximas de manguezais e assim promove a conscientização da população
Narriman Sorbille, Yasmin Braga, Ludmila Andrade e Isabela Marangoni
O dia começa cedo na Zona Noroeste, em Santos. Na área de manguezal o trabalho é árduo para que as mãos voluntárias consigam retirar todo o lixo doméstico espalhado na lama. O cheiro é extremamente desagradável e é penoso passar de um lado para o outro. Ainda assim, o grupo releva esses incômodos porque sabe da importância da atividade.
O trabalho do Instituto Ecofaxina está intimamente ligado ao seu fundador, o biólogo marinho William Rodriguez Schepis, que em 2008 iniciou as atividades da organização não-governamental. Em quase 13 anos de funcionamento, o programa exerce um papel fundamental para a comunidade.
William é um paulistano apaixonado pela ciência. Desde cedo quis trocar a selva de pedra, os prédios altos, o movimento incessante dos automóveis, o barulho de sirenes e motores para embarcar em uma viagem de conhecimento pela fauna e flora. Mas se a princípio ele sonhava com a calmaria de Abrolhos, no sul da Bahia, acabou sendo fisgado pelos mangues da região. E não só pela beleza do ecossistema da Baixada Santista, mas também por ter sido despertado para agir ao constatar a grande presença de lixo nas praias.
“Me chamava a atenção a quantidade de lixo que chegava do mar. Eram resíduos com características domésticas. Embalagens de alimentos, roupas, calçados... Me diziam que era proveniente do porto ou do turismo, mas a certeza veio quando tive a oportunidade de conhecer a Zona Noroeste”
William Schepis
Uma região diferente de tudo com o que William estava acostumado do outro lado da ilha. Era uma paisagem influenciada pela ação do homem, em que incontáveis barracos sob palafitas foram erguidos à beira do mangue. Ali vivia uma população pobre, que não contava com coleta de lixo, tratamento de esgoto ou serviços básicos comuns em áreas urbanizadas.
Foi então que William percebeu o efeito colateral provocado pelo desmatamento do mangue e o descarte incorreto de resíduos, que era o lixo chegando a outros ecossistemas, como praias, costões e ilhas.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, realizado pela Abrelpe em 2020, das 79 milhões de toneladas de lixo geradas em 2019, apenas 72,7 milhões foram, de fato, coletadas. 40% desse total foi descartado de maneira inadequada, com prejuízos ao meio ambiente.
Em 13 anos de existência, entre as 122 ações realizadas pelo Instituto EcoFaxina, envolvendo os mais de três mil voluntários, foram retirados mais de 60 mil quilos de resíduos sólidos do ambiente marinho. No último encontro, no Jardim São Manoel, 368 quilos de lixo foram retirados do manguezal. William calcula que a ONG já recolheu mais de um milhão de garrafas PET.
CONQUISTA
As ações de voluntariado conseguiram sensibilizar muitas pessoas da cidade, principalmente estudantes. As redes sociais foram utilizadas para divulgar as atividades da Ecofaxina, que ganhou visibilidade e reconhecimento.
“Penso que se temos um problema, devemos propor uma solução. Nosso objetivo é exercer um trabalho de base comunitária para que possamos conter esses resíduos e trabalhar com a conscientização da comunidade. Assim, vamos coletar menos lixo e oferecer uma opção para que essas famílias façam o descarte correto”
William Schepis
Além das ações voluntárias, em que pessoas retiram o lixo do manguezal com as próprias mãos, o projeto também tem como ferramenta principal a instalação de ecobarreiras, estruturas colocadas nas calhas de rios, em trechos próximos à foz, para reter o lixo flutuante, facilitando o trabalho de coleta.
Se a pandemia foi um fator prejudicial em relação às ações voluntárias, o biólogo aproveitou a pausa nas atividades para acelerar as negociações com o Poder Público em relação às ações na área das palafitas. Segundo ele, é um processo complicado, já que a ONG atua em uma região em que as famílias estão sendo transferidas aos poucos para conjuntos habitacionais.
O AMOR PELA PROFISSÃO
É impossível não relacionar William a todo o trabalho exercido dentro do Instituto. É a síntese do amor e da busca incansável por uma mudança na vida de moradores da Zona Noroeste e de tantos outros voluntários que passaram a entender a discussão ambiental e social acerca desses problemas.
“Deixei de fazer coisas que gostaria, como viajar ou comprar algo, isso para investir e continuar o trabalho. O Instituto vive de doações, não recebemos verbas públicas. Então minha vida é me dedicar ao trabalho. É um sacrifício financeiro grande, mas vale a pena. Acho que é porque sou taurino e teimoso. Faz parte da minha personalidade insistir e nunca desistir”.
VISÃO DE MUNDO
Responsabilidade é o fator que move o mundo, pelo menos na visão do William. Segundo o biólogo, a vida precisa ser vista e experimentada com equilibrio, conjugando deveres e responsabilidades.
“Precisamos diminuir a desigualdade social, porque o reflexo da pobreza no meio ambiente é muito grave. As pessoas precisam começar a não pensar apenas na alegria, mas também achar o prazer em outras coisas. A natureza é um patrimônio nosso e precisamos usá-la de forma inteligente. Não acho que a natureza tem de viver intocada, mas precisamos saber usufruí-la”.
O biólogo aponta a falta de fiscalização como um fator que acelera o desmatamento e modifica as paisagens. Ele compara com a situação da região pantanosa dos Estados Unidos, na Costa Leste, e os parques e reservas daquele país, que são protegidos. “No Brasil, temos leis duras no papel, porém na hora de punir, vemos que a justiça ainda é muito leve”, critica.
Narriman Sorbille
Tartarugas-marinhas confundem pinos plásticos, geralmente usados para embalar cocaína, com lulas e outros animais.
CONQUISTA
As ações de voluntariado conseguiram sensibilizar muitas pessoas da cidade, principalmente estudantes. As redes sociais foram utilizadas para divulgar as atividades da Ecofaxina, que ganhou visibilidade e reconhecimento.
“Penso que se temos um problema, devemos propor uma solução. Estamos conquistando diversas vitórias dentro dessa causa, principalmente em relação ao poder público. Nosso objetivo é exercer um trabalho de base comunitária para que possamos conter esses resíduos e trabalhar com a conscientização da comunidade. Assim, vamos coletar menos lixo e oferecer uma opção para que essas famílias façam o descarte correto”, afirma.
Além das ações voluntárias, em que pessoas retiram o lixo do manguezal com as próprias mãos, o projeto também tem como ferramenta principal a instalação de ecobarreiras, estruturas colocadas nas calhas de rios, em trechos próximos à foz, para reter o lixo flutuante, facilitando o trabalho de coleta.
Se a pandemia foi um fator prejudicial em relação às ações voluntárias, o biólogo aproveitou a pausa nas atividades para acelerar as negociações com o Poder Público em relação às ações na área das palafitas. Segundo ele, é um processo complicado, já que a ONG atua em uma região em que as famílias estão sendo transferidas aos poucos para conjuntos habitacionais.
O AMOR PELA PROFISSÃO
É impossível não relacionar William a todo o trabalho exercido dentro do Instituto. É a síntese do amor e da busca incansável por uma mudança na vida de moradores da Zona Noroeste e de tantos outros voluntários que passaram a entender a discussão ambiental e social acerca desses problemas.
“Deixei de fazer coisas que gostaria, como viajar ou comprar algo, isso para investir e continuar o trabalho. O Instituto vive de doações, não recebemos verbas públicas. Então minha vida é me dedicar ao trabalho. É um sacrifício financeiro grande, mas vale a pena. Acho que é porque sou taurino e teimoso. Faz parte da minha personalidade insistir e nunca desistir”.
VISÃO DE MUNDO
Responsabilidade é o fator que move o mundo, pelo menos na visão do William. Segundo o biólogo, a vida precisa ser vista e experimentada com equilibrio, conjugando deveres e responsabilidades.
“Precisamos diminuir a desigualdade social, porque o reflexo da pobreza no meio ambiente é muito grave. As pessoas precisam começar a não pensar apenas na alegria, mas também achar o prazer em outras coisas. A natureza é um patrimônio nosso e precisamos usá-la de forma inteligente. Não acho que a natureza tem de viver intocada, mas precisamos saber usufruí-la”.
O biólogo aponta a falta de fiscalização como um fator que acelera o desmatamento e modifica as paisagens. Ele compara com a situação da região pantanosa dos Estados Unidos, na Costa Leste, e os parques e reservas daquele país, que são protegidos. “No Brasil, temos leis duras no papel, porém na hora de punir, vemos que a justiça ainda é muito leve”, critica.