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Proteção entra na moda contra o coronavírus e agita vida de costureiras

Atualizado: 23 de jul. de 2020

Comércio de máscaras caseiras transformaou-se em alternativa para o mercado de costura


As bolsinhas a tiracolo coloridas e estilosas que marcaram presença em bazares e feiras de criadores santistas deixaram de ser prioridade na produção de uma hora para outra. Com pouca vida social, as pessoas tendem a adiar a compra de itens como roupas, bolsas e acessórios, o que é uma preocupação para toda a cadeia que se movimenta em torno da produção e vendas de vestuário.


Inversão de prioridades que roubou noites de sono da jovem empresária Gabriella Santoro, de 22 anos. Colhida pelo vendaval do coronavírus, ela teve que mudar a rota em pleno voo. Trocou o nylon pelo algodão, as ferragens por elásticos e em lugar de produzir bolsas, aproveitou a mesma linha de montagem para fabricar máscaras de proteção. As peças são confeccionadas em tecidos coloridos e estampados, afinal, Gabriella é designer. Há dois anos e meio, sua marca Santoro Bags estampa bolsas e mochilas que desfilam pela cidade.


Responsável pela principal fonte de renda da família, Gabriella mora com os avós


Até a data de produção desta matéria, 18 de maio, ela e o namorado, Julio Vinicius, já contabilizavam R$3 mil de lucro em pouco mais de um mês, considerando apenas a venda do acessório. Quando trabalhavam apenas com as bolsas, o lucro ficava em cerca de R$1 mil por mês. O preço das máscaras varia de acordo com o volume do pedido e material. As peças de Gabriella têm duas camadas de tricoline e custam 10 reais (um jogo de três unidades sai por 25 reais) e máscaras com uma camada de brim e uma de tricoline a 12 reais (ou três unidades a 30 reais).


Gabriella é a fonte principal de renda da família. Ela e os avós vivem em um apartamento em Santos e contam com a venda das bolsas, e agora das máscaras, para a maior parte das despesas da casa. Com a pandemia, Júlio, que é tatuador, acabou ficando sem renda e assim sobrou um tempinho a mais para dar aquela força na marca da namorada. Os dois têm passado a quarentena juntos, mas ao invés do clima de romance, o ambiente é de muito trabalho. O corte, embalagem e entrega ficam por conta de Júlio, enquanto Gabriella costura, compra os itens necessários, e atende o público online pelo WhastApp e Instagram.

“O trabalho dele é essencial para mim”


O projeto foi um pouco controverso para o casal, por não saberem exatamente como seria o comportamento do vírus e a expansão da epidemia, não existia muita expectativa da rentabilidade do produto, estavam em um terreno pantanoso. “Eu vi que era uma oportunidade, havia uma procura muito grande na minha vizinhança e com os funcionários do prédio”, e não deu outra. Com tentativa e erro, e com tecidos que já possuía em casa, Gabriella chegou em seu modelo favorito: o bico de pato, que tem uma ponta mais arredondada e o tecido adere ao rosto. Ela acredita que seja o mais adequado em termos de segurança, e relata que seu público respondeu bem à escolha.


Sem muitos segredos, bastaram alguns cliques pela internet, em busca de tutoriais de montagem e estudos práticos para os protótipos. As primeiras máscaras foram confeccionadas com restos de tecidos e elásticos que Gabriella já tinha em casa, e conforme a prática foi crescendo, é que foram sendo feitos os investimentos para dar início à produção de fato.


O ambiente virtual também não foi bem uma novidade para a marca Santoro Bags. Desde seu início, Gabriella atende aos pedidos que vêm pelo Facebook e Instagram da marca. No ato da venda, a entrega era combinada. O cliente podia retirar no local ou receber em casa, com acréscimo do custo do frete combinado previamente. Quem não tinha pressa podia optar pelos correios. Não mudou muito com o início da pandemia. Quem compra as máscaras da Santoro Bags pode escolher entre retirar a compra gratuitamente na casa de Gabriella, ou, se optar pelo delivery, paga 3 reais. Júlio faz as entregas de bicicleta. A única alteração foram os envios pelo correio que já não ocorrem mais.


“As pessoas não estão saindo de casa, então elas sempre vão dar preferência para quem mora perto ou para quem entrega” conta a costureira. De acordo com Gabriella, em cada bairro há pelo menos uma costureira, e em todos os lugares há pessoas que precisam de pelo menos uma máscara.


Nasce um novo costume

Assim como doença, a moda pega! Há alguns anos os países asiáticos ganharam destaque na cultura pop mundial, com ênfase na Coreia do Sul, e as bandas mundialmente famosas colocaram em evidência um costume que acompanha a população desde 1919: o uso de máscaras. O trauma causado pela Gripe Espanhola e pelas Guerras Mundiais trouxe aos países asiáticos a necessidade de se proteger da poluição e proteger aos outros de possíveis infecções, o que levou a população a incorporar a proteção como parte do vestuário, algo muito semelhante ao que estamos vivendo agora no ocidente.


Na visão de Gabriella, a população ainda vai utilizar as máscaras por um bom tempo depois do fim da pandemia, e com isso surge também a ideia de combinar a roupa com a máscara. “A gente já está fazendo isso na verdade, porque existe uma gama gigante de tecidos, estampas, detalhes. Precisamos ter mais de uma máscara, no caso de quem continua com o trabalho presencial, são quatro máscaras por dia no mínimo, então a gente acaba querendo combinar com a roupa, com o sapato, meio que já faz parte”, diz.


Mas Gabriella também alerta: além de ser um meio rentável, é necessário o investimento. Com a alta demanda, os tecidos mais apropriados e os elásticos estão ficando superfaturados. “Coisas que eu comprava a 30 centavos o metro, hoje tem gente cobrando um real. Não só eu, mas todas as costureiras quando quantificam isso, percebem que um rolo que custa R$30 está saindo por R$100, acaba sendo um investimento alto”.


Em 2019 a previsão da consultoria Iemi Inteligência de Mercado era que o comércio de vestuário nacional crescesse em 3,3% em 2020. Com a chegada da covid-19 o gráfico que antes apresentava crescimento agora prevê uma queda de 9%, podendo chegar até 12%. Isso ocorre porque o setor não é considerado essencial durante uma pandemia, ou seja, existe a necessidade de dar prioridade a outros itens, como comida, medicação e a máscara.


Por mais que as máscaras de proteção sejam consideradas uma peça do vestuário, elas são essenciais para reduzir a contaminação pelo novo coronavírus.


Uma outra realidade

De acordo com uma nota divulgada pelo Ministério da Saúde, o uso de máscaras caseiras se mostra eficaz na prevenção da covid-19, porém existem algumas especificações necessárias antes de produzi-la “É preciso que a máscara tenha pelo menos duas camadas de pano, ou seja, dupla face. E mais uma informação importante: ela é individual. Não pode ser dividida com ninguém. As máscaras caseiras podem ser feitas em tecido de algodão, tricoline, TNT ou outros tecidos, desde que desenhadas e higienizadas corretamente. O importante é que a máscara seja feita nas medidas corretas cobrindo totalmente a boca e nariz e que estejam bem ajustadas ao rosto, sem deixar espaços nas laterais” revela a nota.


Essa mudança repentina acertou precisamente o mercado de costuras e levou junto com Gabriella, a costureira Helena dos Santos, de 58 anos. A proprietária do “Kantinho das Artes” conta que assim como a jovem, de repente suas bonecas de pano não eram mais o foco de sua produção. “Tudo começou quando fiz quase cem peças para duas casas de repouso, pois minha preocupação era com os idosos, por serem de maior risco na pandemia”.


O modelo mais vendido no comércio de Helena é também o bico de pato, feito com tricoline, um dos tecidos recomendados pelas organizações de saúde.


A ideia inicial era que o custo da máscara fosse simbólico, no entanto, com o aumento de demanda hoje os preços oscilam entre R$8 e R$10 . Helena revela que vendeu em média mil máscaras desde o início da pandemia, mas não soube dizer exatamente quanto lucrou. “Não pretendo seguir com as máscaras até por que a maioria das peças que faço são por encomenda”. Os pedidos são feitos por telefone ou WhatsApp pessoal da costureira. O comprador retira a encomenda na casa de Helena.


Com a escassez de produto e principalmente de máscaras especificas para a área da saúde, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) recomendou o uso de máscaras alternativas  ou seja, feitas de tecido ou outros materiais, deixando, assim, as do tipo cirúrgicas descartáveis para uso exclusivo dos profissionais de saúde.


Helena é o retrato de muitas pessoas que seguiram pelo ramo de costura nesta pandemia, buscando conciliar a necessidade das máscaras com o sustento econômico frente a uma pandemia global. O aumento de vendas deste item causou uma onda de investimentos e concorrentes novos. A costureira conta que as vendas caíram com o tempo devido a este fator “Senti que no final de maio e início de junho a procura caiu um pouco, até por que tem muitas outras pessoas no mesmo ramo de máscara e com isso as pessoas escolhem mais”.


Como funcionam as máscaras:

  • As máscaras servem como barreira física ao vírus, protegendo a pessoa saudável de respirar um ar contaminado, e evitando de contaminar o ar.

  • A máscara deve cobrir nariz, boca e queixo.

  • Evitar colocar a mão na máscara e ou rosto.

  • Tirá-la apenas pelas laterais, e colocar para lavar o mais rápido possível.

  • A lavagem deve ser feita com água e sabão, deixando de molho por 20 minutos no mínimo, e após estar seca passar a ferro. O uso de água sanitária pode danificar a máscara diminuindo a vida útil da mesma.

  • Não usar a máscara úmida em hipótese alguma.

  • Trocar as máscaras de duas em duas horas, ou quando tenha sujado ou ficado úmido

  • O armazenamento deve ser feito com um saco igualmente limpo.

  • As máscaras na Baixada Santista são de uso obrigatório sob pena de multa para todas as pessoas acima de 10 anos.

  • O Ministério da Saúde aconselha que as máscaras devem ser usadas inclusive por crianças, desde que elas consigam controlar os impulsos de levar a mão ao rosto, evitando que o meio de proteção se torne um meio de contaminação.

  • A única contraindicação do uso de máscaras é para o uso em crianças com menos de dois anos, por conta do alto risco de sufocamento.



 

Por Amanda Oliver II Natália Azzolini II Rafael Meireles II Pedro Donabela


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