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Comer pastel na feira não é mais como antes

Atualizado: 29 de jul. de 2020

A marca registrada de qualquer feira é o pastel acompanhado do refresco da cana e agora com as medidas de combate ao Coronavírus, isso não vai mais acontecer


Brasileiro tem um fraco por muvuca e não é de hoje. Basta olhar o nosso Carnaval, as calçadas diante de bares e padarias e as feiras livres. É um traço da nossa cultura, que combina muita gente, muito contato físico, descontração e quase nenhum cuidado com questões sanitárias. Em tempos de coronavírus, essa realidade mudou. Principalmente nas coloridas e barulhentas feiras livres. Pastel e caldo de cana, só levando para comer em casa.


O “novo normal” chega para tornar a tradicional feira em algo mais calmo. Um dos principais reflexos dessa transformação imposta pela pandemia é o movimento nos carrinhos de pastel, mas a quarentena atingiu a todos os comerciantes. Para José Sergio Dias, feirante há mais de quatro anos, “essa nova realidade vai ser difícil”.



O descontentamento de Dias é decorrência das medidas de distanciamento social que, mesmo não sendo tão respeitadas na tradicional feira, fizeram recuar as vendas. “A gente vendeu bastante antes da quarentena começar. Mas depois de algumas semanas, a gente não vendia como antes e até ficamos um tempo sem abrir a barraca”, relata o feirante.


No começo da quarentena, em março, a preocupação das pessoas em estocar frutas e legumes elevou o preço e deu sinais de otimismo para feirantes. Porém, o mês seguinte foi marcado por uma queda expressiva na demanda. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o preço médio teve queda mensal de 9,84% na cidade de São Paulo, chegando ao preço médio de R$ 1,65 o quilo.


Atualmente, com indicativos da reabertura do comércio e do relaxamento das medidas de distanciamento social, os feirantes esperam que a situação melhore gradativamente. O que se percebe é que nem todos seguem as medidas recomendadas.


A máscara dificulta na hora de gritar e disputar os clientes, então é comum vê-la no pescoço dos vendedores. A higienização se resume ao álcool em gel pendurado em uma linha que delimita a fronteira entre o cliente e o atendente.

Mas José Dias garante que a maioria tem respeitado as regras. “Todo mundo aqui fica de máscara o tempo todo. Um ou outro tira só quando precisa promover o negócio. As barracas também têm comprado e distribuído álcool em gel, que é usado sempre quando alguém quer pegar nas frutas e nos legumes”, explica.


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Organização Mundial da Saúde anunciaram que não há indício da transmissão do coronavírus por meio de alimentos. No entanto, as entidades sanitárias ressaltam a importâncias dos cuidados na montagem. Barracas devem estar afastadas umas das outras e trazerem marcações por faixas ou fitas colocando os limites de distanciamento. Tudo o que não acontece na feira do Marapé, por exemplo, onde a barraca de Dias marca presença toda semana.


“Eu e meus colegas fazemos o que podemos. Colocamos a linha de contenção e o álcool em gel na frente das barracas, e usamos as máscaras para evitar qualquer contágio. É o que podemos fazer”, enfatiza o feirante. Quanto à expectativa sobre o novo normal, Dias se diz inseguro, mas procura ser otimista: “Apesar das dificuldades, a gente vai superar isso”.


Olhando a feira pela janela do apartamento, a dona de casa Silvana Cidral de Oliveira espera que a pandemia acabe logo para ela voltar a comprar suas frutas nas barracas de alimentos e se exercitar um pouco.


Silvana acha que as feiras não são seguras, mesmo com os frequentadores e feirantes usando máscaras. A dona de casa já fica preocupada só de ver um monte de pessoas andando e fazendo compras na rua em frente ao prédio onde mora. Da janela, critica: “Olha ali o rapaz com o nariz para fora da máscara”.


Por sorte, dona Silvana consegue que o marido, que está afastado do trabalho, compre o que é preciso no supermercado. A solução não é tão simples quanto parece.


Frequentemente, ele está mandando fotos pelo Whatsapp, perguntando se aquela fruta está boa, se aquele legume tem uma boa aparência. “Ele já esqueceu de pegar coisas que estavam na listinha de compras. Mas, aos poucos, está pegando o jeito”, conta Silvana.


Mesmo assim a dona de casa acha que as feiras devem continuar, por serem importantes. Silvana se preocupa também com a condição dos trabalhadores e suas famílias. Mas, para preservar a saúde dela, do marido e dos dois filhos, deixou o hábito de andar pelo bairro para fazer compras.


Moça bonita não paga

Ao invés de ficar olhando pela janela ou pedir ao marido para fazer compras, a podóloga Wanici Mendes Freixo ainda frequenta as feiras que ocorrem na rua onde mora. A preferência de Wanici pelos alimentos anunciados em meios aos gritos de “moça bonita não paga” pelos feirantes, é por causa da falta de confiança dela no manuseio dos produtos nos supermercados. "Além disso, as frutas do supermercado duram menos, não são tão frescas como nas feiras".


Mesmo se expondo aos riscos, Wanici toma certos cuidados, como usar máscara na rua; lavar constantemente as mãos e evitar de colocá-las no rosto. Quando chega em casa após frequentar a feira, a podóloga desinfeta rapidamente as embalagens dos produtos com álcool 70 e, antes de consumir qualquer fruta, ela lava bem.


A podóloga acredita que as autoridades poderiam intensificar os cuidados nas feiras, colocando pessoas no começo e no fim da rua para medir a temperatura e disponibilizar álcool em gel aos frequentadores. Mesmo achando que estar entre as barracas de frutas e legumes é um dos locais menos seguros durante a pandemia, ela se mostra resignada: "Seguro não é em lugar algum”.




 

Por Davi Costa || Henrique Cunha || Isis Canonici || Rafael Prado

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