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“Quem trabalha na informalidade, quem é cabeleireira como eu, sabe a dificuldade. Tudo parou"


Aos 43 anos, Edimeia de Souza Pinto, a “Minuxi”, mãe de quatro filhos, cabeleireira e revendedora de lingerie e de cosméticos, tem passado aperto nessa quarentena. Sem luz, sem saída e sem esperança de receber o “coronavoucher”, Edimeia descreve sua rotina no distanciamento social.


Depois do dia 15 de março é que minha ficha começou a cair. Fiquei sem clientes e as poucas que estavam com horário agendado mandaram mensagem no meu Whatsapp para cancelar. Dias depois, o lucro que teria com os cortes, tinturas e químicas que já estavam marcados me fez falta.


Tanta falta que recebi a visita de um rapaz da CPFL. Ele estava de máscara e eu, dentro de casa com a tevê ligada para escutar as notícias do coronavírus. Só quando reparei bem no símbolo estampado na camisa é que entendi. Ele ia cortar a minha luz.

O rapaz me viu de longe e perguntou: “a senhora não vai vir aqui na frente, não?”. Eu respondi: “ Não. Eu tenho problema respiratório”. Tenho muito medo de me contaminar. Fiquei observando de longe e voltei para dentro com a tevê já desligada. No fim da noite, eu preparei a janta para os meus dois filhos, Clayton e David. Antes de dormir, tive a ideia de ir até a CPFL na manhã do dia seguinte.


Da minha casa, no bairro Costa e Silva, em Cubatão, até o escritório da CPFL dá pouco mais de dez minutos. Tomei café e fui. Quando cheguei lá, estava tudo fechado e um papel dizia que o expediente estava suspenso por causa do coronavírus. Eu precisei fazer o procedimento pela internet e, como não sou boa nisso, pedi ajuda a minha filha, Élida.


Ela não mora comigo e nem consideramos a possibilidade de ela me visitar por causa do vírus. Eu fiquei alguns minutos com o celular no ouvido. A minha filha disse que para renegociar as contas atrasadas, eu precisava de um cartão de crédito, mas a fatura do cartão é uma das contas atrasadas bem antes do coronavírus.


No fim, isso tudo não me preocupa tanto. Isso não me tira o sono. Na verdade, o meu medo é deixar de pagar o aluguel. Ficar sem luz como estou agora ou sem água daqui a um tempo, a gente consegue resolver depois. O aluguel não. Além dos meus filhos que dependem de mim, o dono da casa também depende do aluguel.

E agora com essa coisa toda de isolamento, não consigo trabalhar. Não posso vender as lingeries ou os cosméticos. Nem o salão que tenho em casa consigo deixar aberto e, mesmo que estivesse disponível, ninguém viria até aqui.


Além disso, os meses de fevereiro e março são péssimos. Quem trabalha na informalidade, quem é cabeleireira como eu, sabe a dificuldade do começo de ano. Os casamentos e eventos acontecem nos meses de abril e maio. Com o coronavírus parou tudo.


E no fim a gente nem tem dimensão da gravidade. A própria prefeitura mesmo. Eu não vi nenhuma ação: higienização das ruas, carros de som, panfletos. Nada. O máximo foi umas artes no Whatsapp e no Facebook.


Eu tô acostumada com porrada. Criei quatro filhos sozinha e você pode imaginar o que isso significa.

Nunca tive ajuda do governo. Caso dessa vez a ajuda venha por causa do coronavoucher, vou conseguir pagar o aluguel. Mas se não vier, vou ter que dar um jeito, como sempre fiz.


Enquanto isso, espero que o David receba a cesta básica. Ele estava de férias e vai voltar agora. A gente não sabe se tem direito ou não. Daí fica aquela angústia, porque caso não tenha vai fazer muito falta.


Eu nunca precisei pedir ajuda. Meus amigos sempre me ofereceram algo: uma mistura, um arroz, um café, que inclusive aumentou o preço. Uma conhecida foi até o mercado depois de perguntar se eu queria algo. Pedi um café, porque não fico sem um cafezinho. Ela voltou e me disse que o meu café, que é barato, estava custando sete reis.


Outro dia, uma outra amiga foi até o Bom Prato. Ela não queria fazer comida. Quando chegou lá, como pode retirar até duas marmitas, pegou uma extra e me deu. Assim a gente vai levando, mas não sei como vai ser depois de maio. Isso porque o governo fala que tudo isso dura até setembro, com sorte até agosto. Aí não dá!


 

por Davi Costa, Henrique CB II Isis Canonici II Rafael Prado

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