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Foto do escritorVinicius S. Martins

Há 23 anos transformando sonhos em realidade

Voluntário dá oportunidades e ajuda jovens a realizarem sonhos


Natural de Remanso, interior da Bahia, Marenilson Souza mudou para o estado mais populoso do Brasil em busca de melhores condições. Ele é fruto de um casamento que gerou nove filhos. Dois morreram em acidentes. Um de choque em uma cerca elétrica, e o outro em um acidente de moto.


Nilson, como é mais conhecido, é um senhor de menos de 1,70 metro, perto dos 60 anos de idade, sotaque carregado e muita esperança e força para seguir em frente. Nunca conheceu o luxo, mas teve participação fundamental para que alguns jovens sonhadores alcançassem uma vida próspera.


Sua infância foi marcada pela pobreza. Aos oito anos, já trabalhava para colocar dinheiro dentro de casa. Com um pouco mais de idade, pegava sua bicicleta e ia à roça para tirar o leite das vacas e vender na cidade. Já teve que fazer o percurso a pé, pois a bicicleta quebrava ou o pneu furava, e não havia dinheiro para consertar. Eram incontáveis quilômetros para arranjar algum trocado. Em alguns momentos sem nem ter o que comer e sob um sol de rachar. Mas, firme, acreditando no poder do trabalho, ele seguiu adiante.


Seu esforço permitiu, tempos depois, que pudesse comprar uma moto. Mas, ao ver a cena de um homem entrar na casa de seus pais para pegar uma das poucas coisas que restavam, a única televisão que aquela residência possuía, vendeu o veículo e deu uma parte do dinheiro a eles para pagarem o agiota. Com os trocados que restaram, viajou para a cidade de São Paulo.


Com apenas 19 anos, se aventurou pela Capital. Morou em um abrigo por cerca de sete dias até arranjar um emprego. Mas não gostou de lá e logo se instalou na Baixada Santista. Em 1984, desembarcou em Santos.


No litoral, morou de favor com duas irmãs que há um tempo tinham uma casa no bairro Areia Branca. Ficou um tempo desempregado, trabalhou como caseiro na Força Jovem do Santos, torcida organizada do clube da cidade, e passou por perrengues para conseguir recursos financeiros para se sustentar.


Labutou como repositor de mercado e vigilante, mas se encontrou naquilo que sempre o acompanhava: o futebol. Flamenguista de coração, se apaixonou pela cidade conhecida por revelar craques do esporte.


Em 2000, iniciou aquilo que sempre quis. Unir o bom coração que tinha com o esporte que sempre amou: quando criou o Unidos da Baixada, que cinco anos depois se tornaria o Parceiros da Bola, após uma junção com outros projetos sociais da Baixada Santista.


Só que as pessoas que comandavam os outros projetos saíram depois de alguns anos, e deixaram Nilson segurando as pontas sozinho. Com o emprego de vigilante que conseguiu em meados de 2010, comprava bolas e uniformes para a instituição.


Mas o Parceiros da Bola se consolidou a partir de 2017, quando àquela altura muitos jovens que vinham de diversas regiões do Brasil, como Pará, Maranhão, Sergipe e Bahia, estavam indo para Santos em busca do sonho de jogar futebol, e não tinham onde ficar.


Nilson, então, precisou convencer sua esposa de que poderiam morar de aluguel em um apartamento e deixar a casa que tinham construído com muito suor para que ali se tornasse o alojamento dos meninos que participavam do projeto. "A nossa função é servir como ponte para garotos pobres, da periferia, que tentam a sorte no mundo do futebol”, disse Nilson.


“O projeto existe há 23 anos. Muitos já passaram por aqui. Tenho um custo mensal de cerca de R$ 10 mil. Alguns pais de atletas e empresários me ajudam, mas tiro boa parte desse dinheiro do bolso. Não é fácil, é cansativo. No alojamento, faço tudo e mais um pouco. Mas olhar para os moleques e ver eles no profissional, fazendo o que sempre sonharam, nos dá forças para continuar.", completou.



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