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"A quarentena me mostrou como a solidão machuca"

Atualizado: 30 de abr. de 2020

Andressa Rebouças, 21 anos, estudante de Engenharia Química, funcionária da Olin Corporation Brasil, tinha uma rotina de 17 horas diárias de compromisso. Hoje se vê sozinha em um pequeno apartamento na Vila Tupi, em Praia Grande, ansiosa pelo fim da pandemia.



O vírus passou a fazer parte da minha vida, que antes não tinha um único lapso de tempo preenchido. O impacto da quarentena tornou tudo vazio. Não só pela ausência de atividades, mas também pela convivência social. Isso porque a única pessoa que poderia me fazer companhia nesse momento é alguém fundamental no combate à doença: minha mãe, Rita Leite, é coordenadora do Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, e chega a ficar até mais de 12 horas no trabalho, principalmente por conta da covid-19. 

Habituada a me locomover entre Praia Grande, Guarujá e Santos para cumprir a rotina diária, saltando de um ônibus a outro, os dias que passavam tão rápidos, agora ficaram mais longos.

Para quem era acostumada a acordar às 5 horas da manhã, agora me levanto um pouco mais tarde, já que me deram férias no trabalho. O corredor entre a sala e meu quarto virou a esteira que antes corria na academia.

Além disso, também uso este espaço para fazer alongamento e musculação, onde utensílios domésticos, como vassoura e garrafas de amaciante, viraram os equipamentos dos exercícios. Entre uma série e outra, vou até a sacada para olhar se há algum movimento na rua, pois ultimamente, elas estão vazias a ponto de parecer que ninguém mora no bairro. Às vezes aparece alguém, mas não é o mesmo movimento de antes.


Estudar e conversar com familiares, amigos e “contatinhos”, só pela internet. A vida ficou monótona. Mesmo que já tenha reclamado sobre o dia a dia corrido, hoje a rotina faz falta. Ficar horas no trânsito, andar em conduções lotadas e até as aulas chatas da faculdade de Engenharia Química, especialmente de Geometria Analítica, Álgebra Linear e Química Inorgânica viraram sinônimo de saudade.

A quarentena me mostrou como a solidão machuca. Sempre estive rodeada de pessoas, conhecidas ou desconhecidas, seja em uma reunião com amigos na minha casa, nos bares ao redor da faculdade ou nas baladas em Santos e Praia Grande, tudo o que costumava frequentar antes da quarentena. Hoje, dentro de um apartamento de 67 m², minha única companhia é minha sombra, meu reflexo nos espelhos e os meus gatos. Seria bom se pudessem conversar comigo em vez de só me seguirem. O isolamento social faz com que a ansiedade comece a correr pelas veias. Penso: “Quando isso vai acabar?”. Para piorar, a preocupação com minha mãe também me faz perder o sono, afinal, ela é quem está na linha de frente dessa luta. Para tentar espairecer e me acalmar, evito ver notícias negativas sobre a doença e procuro algumas formas para ocupar o máximo possível o meu dia.

Entre leituras, redes sociais, videogame e atividades da faculdade, preencho meu dia vazio. Até porque sei que ser ativa, psicologicamente pode ajudar enquanto não passamos dessa fase.

Para uma pessoa com ansiedade como eu, ter a agenda vazia nem sempre significa algo bom. Tento manter minha sanidade ocupando meu tempo com o máximo de afazeres durante o dia. Mas nem sempre é assim. Por mais que entenda que é algo necessário, muitas vezes não tenho ânimo suficiente para isso. Um exemplo disso é a minha casa, que reflete exatamente o que o mundo está vivendo: um lugar bagunçado e angustiante. A diferença é que todos procuram “organizar” o mundo para que volte ao normal e eu não tenho a mínima vontade de arrumar nada.

Enxergo que atualmente no país a maior parte da população tem contribuído para diminuir a propagação da covid-19, todos se cuidando na medida do possível, assim como eu. Vejo que a maioria dos governantes, exceto o presidente, têm se empenhado para não piorar a situação. De uma certa forma, isso ameniza e me faz entender que é necessário estarmos passando por essa quarentena.


Acredito que esse tempo me fez dar valor para algumas coisas que antes não dava tanta importância.

Como por exemplo a minha avó, que no momento é a minha maior saudade. Alguém que eu via constantemente, mas devido a ela estar no grupo de risco, preferi me afastar. 

Para depois da quarentena não tenho nenhum plano. Talvez voltar a minha rotina, ficar mais próxima da minha família e dos meus amigos. Utilizar o meu tempo para aproveitar o que não pude. Na verdade, minha maior vontade é de passar o máximo de tempo fora de casa, rindo, conversando e rodeado das pessoas que mais me fazem feliz. 

 

Por Luan Gabriel Reis ||  Gabriel Somensari ||  Luiza Pires ||  Nara Vasconcelos

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Revista Viral -  Especial Quarentena

Revista Laboratorial do 4º ano de Jornalismo da Universidade Santa Cecília, na disciplina de Laboratório de Produções Jornalísticas (Revista). Esta edição conta com produção dos alunos das disciplinas de Radiojornalismo, Informática Aplicada, Oficina de Jornalismo e Representação Eletrônica (Produção Multimídia). 

Professores responsáveis: Helder Marques, Nara Assunção e Raquel Alves

Professora responsável pelos podcasts: Wanda Schumann

Diretor da Faac: Humberto Challoub

Coordenação de Jornalismo: Robson Bastos I Coordenação de Produção Multimídia: Márcia Okida

 

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