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"Depois de um dia de trabalho, me sinto um pouco radioativo"

Atualizado: 7 de mai. de 2020

Furar o isolamento social para levar informação de qualidade à audiência do telejornal Hoje, da TV Globo, é a nova rotina do repórter santista Filippo Mancuso. Além do risco de contágio, o pai da pequena Laura, de 10 anos, conta que só viveu um clima tão tenso durante as ondas de ataques do PCC, em 2006



“Eu confesso que não é nem um pouco confortável estar na rua, enquanto boa parte das pessoas está recolhida, se protegendo sob camadas de álcool gel. Quando chego em casa, não basta tirar a roupa, tomar um banho caprichado e exagerar nos produtos para desinfecção. Ainda assim, fico preocupado em encostar na Fernanda, minha esposa, e principalmente na Laura. Depois de um dia de trabalho, me sinto radioativo. Não me acho herói. Heróis são os profissionais de saúde, mas tenho consciência de que somos profissionais imprescindíveis agora.


O Filippo cidadão sabe que há o risco de contágio, mas o Felippo jornalista vive um momento muito especial. A gente está numa fase que talvez seja a grande chance, uma mudança de chave em meio a essa profusão de fake news que a gente vê por todos os cantos. É hora de valorizar nosso trabalho. O jornalismo profissional vai sair disso tudo muito fortalecido.

Os últimos anos foram difíceis para nossa profissão, com as pessoas se informando por meios alternativos e por fontes pouco confiáveis. Essa pandemia vai fazer que a gente consiga reaver um lugar que a gente não devia ter perdido. Tem sido uma cobertura difícil, de fôlego; nossa missão, que é informar as pessoas, continua sendo clara. Não devemos levar uma overdose de notícias e informações e sim simplificar as coisas para quem não pode sair de casa.


Os jornalistas precisam estar nas ruas para que os outros estejam em casa, com calma, acompanhando notícias de qualidade. Acho que a gente cresce em grandes coberturas e essa é uma que vai ficar para história.

Me lembro de um outro momento em que as coisas ficaram assim estranhas, os ataques do PCC em 2006, quando eu ainda era repórter na Baixada Santista. Tudo começou em uma sexta-feira.


Todas as cidades da Baixada registraram ataques e era justamente o meu plantão. Eu ainda estava começando na reportagem. Nunca vi a cidade tão vazia, como na segunda-feira seguinte. Acho que só daria para comparar com o que estamos vendo agora. Foi muito marcante para mim

Um outro desafio da reportagem na rua atualmente é lidar com os insultos nesses tempos de polarização.

O ataque vem de vários extremos, de pessoas que querem apenas que nós validemos o que elas acreditam, mas a imprensa não é isso. O grande escritor George Orwell já dizia que: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não queira que seja publicado. Todo o resto é publicidade”. A gente parte dessa premissa no nosso trabalho e, infelizmente, no nosso país o jornalismo é questionado até pelo presidente da República, que é “perito” em fazer isso, construir uma narrativa da desconstrução.​




​Uma cobertura tão grande, como a que está sendo feita, vai obviamente apresentar alguns erros, mas, de maneira geral, o trabalho da imprensa está sendo feito com muita qualidade, e não estou falando apenas da empresa para a qual eu trabalho.


O combate às fake news não são apenas dos jornalistas, mas sim de todos. Infelizmente, as fake news estão muito mais disfarçadas, com selos de fontes, sites e jornais confiáveis. Fica difícil para algumas pessoas distinguir o que é certo ou errado, por isso a gente vê cada vez mais, principalmente os portais de internet, com espaços generosos dedicados à desmistificação dessas notícias falsas.


Diante dessa pandemia, a gente torce para que tudo fique bem. Ou que não piore a ponto de ficar mais caótico como em outros países. Apesar dos aprendizados, dos bons momentos que o trabalho vem me proporcionando, do prazer em cumprir a nossa missão, conseguir manter as pessoas informadas, o desconforto e as preocupações trazidas pelo novo vírus não deixam de fazer parte da rotina. Voltar à normalidade de forma gradativa seria um jeito de trazer esperança para a população, já castigada pela quarentena há um bom tempo.

Ficaria satisfeito em ser um dos primeiros a noticiar essa retomada crescente de nossas vidas como conhecíamos. Dizer que o vírus perdeu a força no país com um número de mortes abaixo do esperado.



 

​por Luciano Matioli || Ana Carolina C. Faccioli || Mariana Saitta || João Pedro Bezerra || Fernanda Paes

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Revista Viral -  Especial Quarentena

Revista Laboratorial do 4º ano de Jornalismo da Universidade Santa Cecília, na disciplina de Laboratório de Produções Jornalísticas (Revista). Esta edição conta com produção dos alunos das disciplinas de Radiojornalismo, Informática Aplicada, Oficina de Jornalismo e Representação Eletrônica (Produção Multimídia). 

Professores responsáveis: Helder Marques, Nara Assunção e Raquel Alves

Professora responsável pelos podcasts: Wanda Schumann

Diretor da Faac: Humberto Challoub

Coordenação de Jornalismo: Robson Bastos I Coordenação de Produção Multimídia: Márcia Okida

 

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